O desafio de amar

Por Palavras de Esperança – Dom Anuar Battisti
Ninguém vive sem amor, e ninguém ama sem sentir dor. O amor é um mistério, um segredo que se vive sem esperar nada em troca. Na dinâmica da vida desejamos ser amados, compreendidos, respeitados, valorizados, considerados, enfim uma ladainha de verbos possesivos que jamais serão vividos plenamente.
Como amar sem sentir a dor da traição, da desconfiança, da mentira, da falsidade, do silêncio, da solidão, do abandono, do reconhecimento? Não existe amor sem dor. Na medida em que a dor é amada, imediatamente é superada.
Saber amar é saber superar gratuitamente cada pequeno ou grande desencontro, sem esperar nada em troca, a não ser a força de recomeçar. Diante dos conflitos da vida cotidiana, a tentação é saber quem tem razão, quem errou. A solução nos interessa, e não o culpado.
O Papa Francisco diz: “Supomos sermos justos, e julgamos os outros. Julgamos até Deus, porque pensamos que deveria punir os pecadores, condenando-os à morte, em vez de perdoar. Agora sim corremos o risco de permanecer fora da casa do Pai! Como aquele irmão mais velho, em vez de se alegrar porque seu irmão retornou, ele fica com raiva de seu pai que o acolhe e faz festa. Se em nossos corações não há misericórdia, alegria do perdão, não estamos em comunhão com Deus, mesmo observando todos os preceitos, pois é o amor que salva, não apenas a prática dos preceitos. É o amor por Deus e pelo próximo que realiza todos os mandamentos. E este é o amor de Deus, a sua alegria: perdoar. Nos espera sempre! Talvez algum de vocês tenha algo pesado em seu coração: ‘Mas, eu fiz isso, eu fiz aquilo…’. Ele te espera! Ele é pai: sempre espera por nós!
Se vivemos de acordo com a lei “olho por olho, dente por dente”, jamais sairemos da espiral do mal. O Maligno é inteligente, e nos ilude que com a nossa justiça humana podemos nos salvar e salvar o mundo. Na realidade, somente a justiça de Deus pode nos salvar! E a justiça de Deus se revelou na Cruz: a Cruz é o julgamento de Deus sobre todos nós e sobre este mundo. Mas como Deus nos julga? Dando a vida por nós! Eis o ato supremo de justiça que derrotou, uma vez por todas, o Príncipe deste mundo; e esse ato supremo de justiça é também ato supremo de misericórdia. Jesus chama todos a seguirem este caminho: ‘Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso’ (Lc 6:36)”.
O que aconteceu com aquele que amou a todos, que acolheu os pecadores, fez refeição com eles? O que aconteceu com aquele que curou a os doentes, restabeleceu os paralíticos, fez os surdos ouvirem e os cegos verem? Como terminou a vida daquele que fez milagres, multiplicou cinco pães e dois peixes matando a fome de uma multidão? Qual foi o fim daquele que arrastou multidões e foi aclamado como Rei? O fim foi o abandono, a condenação e a morte. Não existe amor verdadeiro sem cruz e sofrimento. O amor dói. É doído amar sem esperar nada a não ser amar. Foi na entrega por amor do homem de Nazaré, o Filho único do Pai, que hoje somos capazes de amar, mesmo quando dói. Esse tempo que chamo de “diferente”, clama por um amor de aproximação e alegria, chegando ao ponto de dizer não aguento mais, preciso amar diferente. Que tempo é esse que não deixa fugir para o amor escondido, marcado pela falsidade, porque não acaba logo tudo isso, quero voltar como era antes.
Amar dói e só quando dói é verdadeiro amor. Que o Sagrado Coração de Jesus, nos ensine, cada vez mais, amar sem esperar nada em troca.

Fonte: gmconline.com.br