Ensina a filosofia do irmão da estrada que na escola da vida não há férias. Desde que nascemos entramos em processo de aprendizado permanente. Seguimos aprendendo até ao dia da nossa morte. Morrer é, na verdade, a última lição do curso. Quando ela chega, deveríamos já tê-la aprendido. Afinal, tivemos toda a vida para estudá-la. Não é, infelizmente, o que acontece. A maioria nem quer ouvir falar dela. Se há uma lição a cuja aula a gente faz questão de faltar é essa.
Dom Murilo Krieger falava sempre: “Morro e não vejo tudo”. Ele queria dizer que podemos, a qualquer momento, passar por uma experiência que supúnhamos impossível. É assim; queiramos ou não, a vida ensina. Quanto mais tempo a gente recolhe na sacola, tanto mais ajunta conhecimentos. Por isso, aos velhos costuma-se atribuir maior sabedoria que aos jovens. Se bem que, em nossos dias, as pessoas não se mostrem preocupadas com sabedoria. Muito mais parece se interessarem por dinheiro, beleza e juventude.
Diógenes (412 a. C. – 323 a. C.) de Sinope, da Grécia (não Sinop, do Mato Grosso), filósofo, exilado de sua cidade, instalou-se em Atenas. Foi viver num tonel, numa barrica, a cuja frente ergueu uma placa com o anúncio: “Vende-se sabedoria”. Coitado, estivesse hoje no Brasil, morreria de fome, com certeza.
Vivemos a era das aparências que fascinam. Dos brilhos promissores de uma felicidade sem fim. Entretanto, como a vida é cambiante, cheia de surpresas e de novidades, em pouco tempo, já estamos pensando em mudar de novo. Parece difícil crer em algo permanente. Tudo nos parece substituível, descartável. Até as pessoas. Talvez nunca, como hoje, os casais tenham trocado tanto de companheiro (a).
Não dá para estabelecer uma regra absoluta, mas, de modo geral, quando a mulher procura outro, ela está interessada num mais rico; o homem, numa mais bonita. Como dizia Vinícius, “que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental”. Dinheiro e beleza foram elevados à categoria de valores imprescindíveis. Ainda assim, menos apreciados que juventude, – esta, sim, objeto do desejo de dez entre dez pessoas consideradas normais. Atravessamos uma fase curiosa: nunca, como agora, se desfrutou de vida tão longa; ao mesmo tempo, nunca se apreciou tanto a aparência de jovem sarado (a). Ser (ou até só aparentar) juventude tornou-se ideal a conquistar, qualquer que seja o custo. Defendemos uma incoerência: ninguém quer morrer jovem, mas também não quer ficar velho.
De todos os mal-estares da vida o pior, seguramente, é a velhice. Para a maioria das pessoas, nela reside a desgraça maior. E não há como afastá-la. Ela vem de braço dado com um bando de más companhias, as doenças. Por mais que dela se evite falar, a velhice vai inevitavelmente instalando-se no corpo da gente. Não há força capaz de impedir esse drama. Mais que drama: para muitos é tragédia.
Dos idosos não se espera sabedoria? Deixemos, então, de falsidade ou de piedosas mentiras. Que sentido tem “melhor idade” ou outra tolice de igual calibre? Melhor para quem? Para os laboratórios fabricantes dos remédios de uso contínuo que tomamos? Nenhum idoso inventou essa bobagem, tenho certeza.
Vamos aceitar, com serenidade e gratidão, que a velhice nos alcance. Só não permitamos que ela se instale em nosso espírito. No corpo já está de bom tamanho.
2 comentários
Pe. Orivaldo: brinco que não vou morrer antes dos 108 anos, ….porque tenho muito ainda para fazer…
Muito sábio o nosso querido Padre Orivaldo