Nos dias de hoje, é cada vez mais difícil viver profundamente a experiência da quaresma frente aos desafios e tentações do mundo moderno… e para o jovem, o desafio só aumenta! São tantas duvidas que surgem nesse início de caminhada, nesse mundo novo e enorme que se abre para nós quando conhecemos Deus e seu amor, que mal sabemos por onde começar!!
A maior dificuldade enfrentada é a de manter uma rotina de oração, uma comunhão diária e constante com Deus. Com todos os compromissos e a correria do dia a dia, as vezes é difícil se afastar de tudo isso, silenciar o coração e prestar atenção no que Deus nos fala. Por isso, a Igreja Católica nos convida a seguir quatro preceitos para uma melhor vivência: oração, jejum, caridade, e a escuta frequente da palavra de Deus, buscando sempre em todos eles o apoio e a vivência em comunidade! Isso nos ajudará a ter um norte, é a porta de entrada para uma quaresma bem vivida e uma Páscoa abençoada!
A quaresma não é um caminho que trilhamos desgovernados, mas sim uma jornada da qual sabemos com total certeza o final. Quando decidimos caminhar lado a lado com Jesus, sabemos que vamos em direção a sua Páscoa.
Como jovens que desejam viver mais intensamente os ensinamentos de Jesus, a quaresma é o tempo propício para o nosso desenvolvimento. É um tempo que vai exigir que nós nos desvencilhemos daquilo que é inútil, que não é importante para a nossa caminhada, ou muitas vezes aquilo que está nos impedindo de caminharmos adequadamente, aquilo que está nos impedindo de irmos na velocidade correta, ou com a disposição correta.
O tempo da quaresma é um presente de Deus para nós, pois é através dele que nos fortalecemos e nos preparamos para desfrutar a Páscoa do Senhor. A Páscoa, por sua vez, traz não somente o sentido da ressureição, mas também passagem, a passagem da morte para a vida, englobando assim num todo a paixão, morte e ressureição de Jesus.
Deste modo, ao iniciarmos a quaresma, temos que saber que haverá sofrimento, que teremos que renunciar nossos “pecados de estimação”, matar o que é ruim dentro de nós, para que isso morra e fique pregado na cruz, junto de Jesus. Assim, poderemos depois desfrutar da alegria da ressureição, de uma vida nova em Cristo! Como disse Paulo na Carta aos Romanos, “Se com Cristo morrermos, com Cristo ressuscitaremos ” (Rm 6, 8). É um caminho difícil de reflexão, autoconhecimento e oração, que nos leva ao mesmo lugar em que Jesus esteve: o Deserto.
Todas as vezes que o povo de Deus está a caminho de algo, de um acontecimento importante, eles sempre passam pelo deserto, um local seco, árido, ermo, mas também um espaço de despojamento e preparação. Nele nos desvencilhamos de tudo que é inútil e nos impede de crescer e avançar na caminhada. É o tempo e o local ideal para crescermos, pois temos a oportunidade de olharmos para dentro de nós mesmos, pensarmos, e reconhecermos o que nos afasta de Deus. Se lermos com calma a passagem, veremos que os quatro evangelistas mostram que foi o Espírito que levou Jesus ao deserto, e não o diabo. Lá muitas coisas aconteceram, e dentre elas, as tentações do diabo. Contudo, foi através disso que Jesus venceu – e nos ensina a vencer – essas tentações com a própria palavra de Deus. Esse tempo de deserto é importante, temos que querer e buscar estar nele.
O texto a seguir é um fragmento do livro “Cartas de um diabo a seu aprendiz”, de C.S. Lewis. Nele, o autor apresenta do ponto de vista de um diabo, o que fazer para impedir que os humanos cheguem até Deus e experimentem a verdadeira felicidade e completude.
“Os humanos experimentam vários altos e baixos ao longo de sua vida terrestre. É de se surpreender, mas Deus, ao desejar todo o bem e a vida eterna aos seus filhos, valoriza muito mais os momentos baixos do que os altos. Alguns de seus filhos prediletos passaram por muitos momentos de de crise e dificuldade em suas vidas. Esses momentos de crise surgem quando nós buscamos ser preenchidos, enquanto Deus nos oferece o transbordar da alma. Mas então por que Deus não usa de seu poder e onipotência para estar presente todo o tempo em nossas vidas? Se ele assim o fizesse, nos negaria o livre arbítrio, e isso de nada adiantaria para que nós nos aproximássemos dEle. Sua vontade é de que nós nos misturemos em corpo e alma com ele, mas sem deixar de sermos nós mesmos. Se nos unirmos totalmente a Ele, deixando de existir, ou nos afastarmos dEle e continuarmos na nossa individualidade, de nada adiantaria. Por isso Ele dá pequenos sinais de sua presença, mas não permitirá que esse estado dure muito tempo. Mais cedo ou mais tarde, irá se ausentar, e deixar que andemos com nossas próprias pernas. E durante esse tempo de crise (muito mais que nos momentos alegres e felizes) que amadureceremos, e ficaremos cada vez mais parecidos com Ele. As orações feitas neste estado de deserto, aridez e crise são as que mais o agradam! ”
Que possamos, nessa Quaresma, aproveitar essa oportunidade única que Deus nos dá de crescermos e caminharmos cada vez mais juntos dEle, vivendo cada momento intensamente na plenitude de seu amor e buscando a vida eterna!

Griordano Pietro