Síntese da formação conduzida pelo Pe. Virgílio Cabral dos Santos, pároco da Catedral, em 16 de abril de 2018 no 1º Encontro de Formação Geral Paroquial.

 

A eclesiologia da Igreja, Corpo Místico de Cristo já está presente nas Sagradas Escrituras. Nas cartas paulinas encontramos diversos textos que nos apresentam esta comparação da Igreja a um corpo: 1Cor 12,12-27 (o corpo é um só formado por muitos membros; os diferentes carismas dão a riqueza ao corpo humano, imagem e semelhança de Deus); Cl 1,18 (Jesus é a cabeça do Corpo que é a Igreja; portanto, a Igreja vive conforme a cabeça de Jesus); Ef 1,22s (Jesus constituiu Pedro chefe supremo da Igreja); Ef 4,11s (a cada um cabe uma parcela da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo); Ef 5,23 (Cristo é a cabeça da Igreja, como o marido é a cabeça da esposa; Cristo é o chefe da Igreja, seu Corpo, da qual Ele é o Salvador); Ef 5,29 (somos membros de Corpo de Cristo, que é a sua Igreja); Rm 12,4s (não pode haver desunião entre os membros do corpo; quando um membro sofre é todo o corpo que sofre). A preocupação de Paulo era manter a estrutura deste corpo – corpo vivo, no qual se manifestam diversos ministérios, e cuja cabeça é identificada a Jesus Cristo.
Desde os primeiros tempos do Cristianismo a ideia de Corpo Místico de Cristo foi explorada pelos Padres da Igreja, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Em junho de 1943 o Papa Pio XII publica a Carta Encíclica Mystici Corporis sobre o Corpo Místico de Jesus Cristo e nossa união nele com Cristo.

A Igreja é um corpo
A Igreja é um corpo, ensinam as Escrituras Sagradas; sendo corpo, ela é una e indivisa (um só corpo em Cristo; cf. Rm 12,5). Como corpo, um todo indiviso, a Igreja é, também, algo concreto e visível – o que contraria a ideia de que a Igreja é algo simplesmente ‘pneumático’, espiritual.
Sendo corpo, a Igreja tem uma multiplicidade de membros que, unidos entre si, auxiliam-se mutuamente. Em nosso corpo físico, quando um membro sofre todos sofrem e os sãos ajudam os doentes, para que a recuperação aconteça; na Igreja, os membros não vivem cada um para si, mas devem auxiliar uns aos outros, contribuindo para o crescimento de todo o Corpo. Nós somos os membros desta Igreja que é Corpo e, como membros, somos responsáveis uns pelos outros e chamados a trabalhar juntos para o bem do Corpo inteiro.
Como Corpo, a Igreja é constituída organicamente – pois um aglomerado de membros não forma um corpo, e é necessário haver membros com funções distintas, unidos de maneira adequada. A Igreja é Corpo porque é dotada de membros diversos e unidos entre si (cf. Rm 12,4).
Assim como o corpo humano tem suas fontes de energia que proveem vida, saúde e crescimento aos seus membros e a todo o corpo, a Igreja, sendo Corpo, foi enriquecida por Cristo por uma “série ininterrupta de graças que amparam o homem desde o berço até ao último suspiro” – os sacramentos.
Como membros deste Corpo que é a Igreja, somos convidados a produzir novos membros; não há como entender a Igreja como um grupo fechado, que exclui ou ignora alguns. Ainda que existam grupos excludentes, voltados totalmente para si próprios, não podemos perder de vista nossa consciência como corpo católico, isto é, universal, aberto a todos.
No plano de Deus a Igreja é instrumento de salvação dos homens. Jesus quis comunicar graças abundantes por meio da Igreja visível, formada por homens, a fim de que por meio dela todos fossem, de certo modo, seus colaboradores na distribuição dos frutos da Redenção. Ele se serve da Igreja, ao longo dos séculos, para perpetuar a obra da salvação: o mesmo Cristo continua se oferecendo por todos em sua Igreja. Assim, a ideia de Igreja como Corpo ajuda a dar visibilidade à ação salvífica de Jesus Cristo.

A Igreja é o Corpo de Cristo
A Igreja, por sua constituição, assemelha-se a um corpo. Porém, a Igreja não é um corpo qualquer: é o Corpo de Cristo, porque Ele foi seu fundador, e é a Cabeça, o sustento e o Salvador deste Corpo.
Cristo, diz São Paulo, é “a cabeça do corpo da Igreja” (cf. Cl 1,18). Ele é a cabeça, da qual todo o corpo recebe crescimento e desenvolvimento em sua edificação: é Cristo que edifica e desenvolve este Corpo (cf. Ef 4,16; Cl 2,19). Mas, Jesus Cristo, cabeça da Igreja, não dispensa a cooperação do Corpo (cf. 1Cor 12,21), isto é, não dispensa a nossa colaboração na realização da obra da redenção de todos os homens. Precisamos ter com clareza e viver a consciência da nossa identidade como membros da Igreja, Corpo de Cristo (S. Tomás de Aquino).

A Igreja é o Corpo Místico de Cristo
As palavras místico e mistério tem uma mesma raiz: mysterion, termo grego, ao qual corresponde o termo latino sacramentum. A palavra mysterion foi usada por São Paulo para indicar “o desígnio divino oculto em Deus desde todos os séculos” (cf. Ef 3,9; Cl 1,26) e revelado em Jesus Cristo (cf. Cl 1,27; 2Tm 1,9s). Assimilando o sentido bíblico de mysterion, a palavra sacramentum tem o significado de projeto escondido e salvífico de Deus que se comunica e se manifesta às pessoas e aos povos, especialmente por meio de Cristo e pela ação da Igreja.
Ao dizermos Igreja Corpo Místico de Cristo distinguimos o corpo social da Igreja, cuja cabeça, sustentador e regedor é Cristo, do corpo físico de Cristo, nascido da Virgem Maria e, também, o distinguimos de qualquer corpo físico e moral. No corpo místico existe um princípio ativo em cada membro e em todo o corpo, que supera todos os vínculos de unidade existentes no corpo físico e no corpo moral; este princípio é o Espírito Santo, que, nas palavras de Santo Agostinho, “sendo um só e o mesmo enche e une toda a Igreja” (Mystici Corporis 60). Por meio dele, Cristo constituiu a Igreja, seu Corpo, como sacramento universal da salvação. A figura da Igreja como Corpo Místico de Cristo nos recorda que ela se revela presença de Jesus no mundo e suas ações manifestam a ação salvadora invisível de Deus (cf. Lumen Gentium 8.9.48)

Ao finalizar, Pe. Virgílio deixou a todos os agentes de pastorais, movimentos e associações da Paróquia Catedral uma proposta: procurar (re)descobrir todo o trabalho pastoral realizado na comunidade paroquial, os coordenadores e agentes envolvidos, convidando novos membros para as diversas frentes de trabalho e discernindo como cada um pode colaborar para o fortalecimento e o crescimento de toda a paróquia.

 

Síntese realizada por Maria do Carmo Rollemberg